quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Deus reserva o pão – corremos para buscá-lo, sabendo que é presente sempre e nunca estraga (Eclesiastes 11.1-8)

O Eclesiastes não é religioso, mas vivencial. O pregador que fala à assembleia, no livro do Eclesiastes (qohelet), posiciona a vida em lugar sagrado, apesar de andar nas ruas. O pregador, o Eclesiastes caminha nos lugares comuns, pois o valor da vida pensada por Deus não poderia ser vulgarmente considerada, mas tem valor sagrado. Não é apenas o espírito humano que visita a concepção do “sagrado”, mas também o homem em situações concretas. Diante do nosso texto, quase ao final do livro (11.1), o pão lançado sobre as águas é a estrada utilizada para ir e vir com o produto do trabalho. É suposto que o rei Salomão, sendo este nosso personagem na autoria, possuísse embarcação e realizasse negociações externas. De qualquer maneira são as águas o caminho do sustento da venda e compra. É o começo da trilha que conduz ao acreditar que Deus sustentará. Repartir com sete ou oito é a presença marcante dos números na cultura judaica (v.2). É a família, ou o grupo mais que aproximado. As águas presenteiam o produto do trabalho lançado. Mas tal produto não é exclusivo para quem lança o pão. Pois o pão é sinônimo de coletividade – a casa do pão possui portas largas. Repartir é um princípio de sabedoria, até porque a terra traz surpresas. Na mão de muitos, inicialmente sete ou oito, o produto do trabalho é preservado, onde não há falta para ninguém uma vez que o espirito de partilha igualmente é um princípio de sabedoria. Deus enche as nuvens (v.3). Não é apenas uma situação físico-metereológica, mas é a mão sustentadora de Deus sobre a terra que necessita da chuva. A mesma chuva graciosa, muitas vezes bruta, faz cair a árvore ou para um lado ou para o outro. Seja qual for a posição, a árvore não se move por vontade própria, e nem serve para ser lançada ao fogo, mas aproveitada pelos mesmos sete ou oito, na confecção de utilitários. Por que não pensar que Deus abençoa na ação e reação natural? Ao menos pelo olhar do sábio que possuía menores complicações em seu contexto. Será? É uma ótima atração observar e sentir o vento, mas quando o assunto é lançar e esperar o pão retornar, deixa-se de olhar pra cima – vento e nuvens (v.4), e passa a acompanhar o processo da terra. Até porque o vento é impreciso, como impreciso é o conceito da concepção humana no ventre materno – a desinformação sobre a formação dos ossos de uma criança (v.5), assim também é vaidosa nossa afirmação a respeito da ação de Deus. Em suma, faça o que sabes fazer. A semeadura é algo que sai de nossas mãos, bem como a colheita do resultado de tal. O que sabemos está abaixo de nossa cabeça, ainda assim com inúmeras imprecisões. O sábio ainda nos diz que é preciso vigiar o que se sabe fazer. Não largar mão da terra, descansando no acreditar que ela nos é escrava. O pão lançado e retornado não é jogado aos cantos, mas com sabedoria é cultivado (v.6). A luz é doce, nas palavras do sábio (v.7). Porque é na luz que tudo se realiza. Ele nos convida a aproveitarmos a claridade. Deus acende a luz para enxergarmos o pão cultivado. Mas dias de trevas estão presentes da mesma forma, não apenas por não enxergar, mas porque a sabedoria exige consciência das situações. Quando o pão vem em demasia é motivo de festa, quando não, guarda-se a festa para mais tarde. Não serão poucos os dias, pois em todos eles a vida se adapta (v.8). Contudo, o sábio nos avisa que tal vida é cercada pela vaidade. Pois é nas palavras de Jesus que encontramos a resposta: “ [...] não é a vida mais do que o alimento [...]? Observai as aves dos céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta [...]” (Mateus 6.25b-26). Evidentemente, a sabedoria em nosso texto se encontra por intermédio da experiência em não tornar tal sabedoria comum, na sugestão do sábio. O convite do sábio diz respeito a uma tomada de decisão e de direção nos procedimentos adotados. Essa é a Bíblia, a Palavra de Deus que nos empurra para melhores lugares. Deus conosco

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Jesus nascido... Deus acampado conosco...

O apóstolo João, juntamente com sua comunidade, no seu tempo, no contexto onde eles estão inseridos, tiveram como objetivo apresentar um Cristo que pelo tempo já decorrido, era visto distanciadamente. Um Cristo com fama. Um homem que marcou sua história pelos feitos sobrenaturais, pelas falas sobrenaturais, um homem que de tão humano como é, apenas sendo o próprio Deus mesmo, assinando sua criação na encarnação humana, vivendo a vida humana, mas apropriado de uma natureza, mentalidade, sensibilidade e orientações divinas. A verdade é que João e sua comunidade nos revela que a "Palavra" (o Deus lido por meio da lei, das orações salmodiais, das bocas dos profetas, o Deus ouvido e sentido) pousa em nosso quintal. Deus em Cristo arma sua barraca, acampando no meio de nós, usufruindo e dividindo a mesma vida. É acordar e saber que Deus também mora em nosso condomínio. No entanto, merece nossa atenção pois Ele fala e age como nós, mas ao mesmo tempo como Deus quer, como Deus é. Deus tornou-se pessoa e sentou-se em nosso banco, onde sentimo-lo seu calor e sua presença. Torna-se bastante incompreendido para outros segmentos que creem em Deus sem pensá-lo como Triúno. Porém, aqueles que seguem a Jesus Cristo de Nazaré, nascido em Belém, seguem-no sabendo que é a Deus com quem estão tratando. É o filho de Deus, nascido de uma mulher, mas concebido inexplicavelmente pelo Santo Espírito. É graça e verdade contidas nele que o revelam a nós. Jesus o Cristo de Deus nos é revelado porque graça e verdade não se alojam em um homem que não tenha sido enviado especialmente de Deus. João e a comunidade testemunham que viram sua glória. Não a glória de um herói ou mártir, mas de alguém único. É Jesus o único que Deus gerou. Deus não cria um filho, Ele gera. Se somos filhos de Deus, somos adotados. Mas o único que tem a "cara" do Pai é Jesus. O lugar é inóspito. Não se tratou de um lugar apropriado onde crianças nascem, mas a estrela brilhou lá. O humilde adquiriu brilho, pois Deus visitou tudo o que era inapropriado. Os pastores foram atraídos, os sábios foram atraídos, os anjos cantaram, e até a realeza se incomodou com o fato. Deus veio a nós e nunca mais nos deixou. A imagem do Deus invisível se fez notória. A salvação nasceu na criança. Deus como criança já nos deu garantia de salvação. Bastou surgir em nosso meio como uma criança, isso nos serviu como indicação de toda a história. A criança foi seguida. Como adulto foi igualmente seguido, e jamais conseguiremos tirar nossos olhos do lugar onde Ele se encontra...: Deus conosco é conosco onde Ele se encontra - assim como a estrela se manteve no céu guiando a todos em direção a presença do Deus menino, assim o menino é nossa estrela que nunca se apagará. Imanuel... Deus conosco!

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Voltando para a casa com mantimento nas mãos (Salmo 126)

O salmo 126 está localizado na Babilônia, no exilio (a partir de 587 a.C.). Havia um sentimento nacionalista. Uma emoção em relação a saudade da terra, bem como um desejo de retornar à casa que fazia parte dos pensamentos, por todo instante – isso enquanto se vivia no lugar que não podia chamar de “seu”. Em todo tempo, o saudosismo se apresentava em cantarolar as canções que faziam parte da terra natal, da Jerusalém, do Sião sagrado. Eram músicas que transportavam os corações e mentes dos saudosos – do povo de Deus instalado na Babilônia. Eram sonhos esperançosos que sabiam e aguardavam por acontecer. Intensa foi a expressão do salmista (v.1), quando eles se encontraram de supetão, no momento que Javé alterou o cativeiro – é a saída do cativeiro indesejado, rumo ao cativeiro sonhado. “Estávamos como quem sonhando...”, trocando em miúdos, não acreditávamos o que estava acontecendo, não parecia verdade, me belisca! Foi o momento histórico: “a boca se encheu de riso e a língua de jubilo”. Foi um momento de euforia onde a alegria não se cabia, e onde e as palavras foram tomadas por expressões festivas de enaltecimento a Javé. O momento foi testemunhal. Outros povos perceberam o Deus que age. A constatação é que Javé é Deus de benfeitorias. Ele olha para o povo e luta em favor deste. Age pelos homens, pelo seu próprio povo. Ao estranho foi no mínimo curioso. A fofoca sobre o Deus Javé que age em favor dos jerusalemitas exilados, correu solto entre todos. No v.3 o salmista assume o que virou noticia: “grandes coisas Javé fez conosco: estamos contentes”. Neste instante, o texto conclui a satisfação pela ação de Deus. O salmo poderia finalizar aqui. Temos a impressão de que foi dito tudo. No entanto, o v.4 aponta como se fosse uma petição anterior, ou uma confirmação daquilo que irá acontecer. Por se tratar de uma canção, temos a possibilidade de repetição da frase. O acréscimo é o deserto do Negeb – lugar árido onde chovia raramente, mas inundava a tal ponto que quando a chuva passava havia florescimento no solo. O lugar da infertilidade tornava-se fértil, mesmo que voltasse a ser deserto. A canção termina relatando que a fertilidade é alcançada na caminhada e no choro mesmo enquanto se semeia não sabendo se a semeadura vingará. Mas quando volta, tendo o resultado da colheita, volta com riso e com o conjunto de palhas colhidas nas mãos. São os feixes nas mãos que servem como trunfo de que valeu deixar as lágrimas semearem o árido Negeb. Essas são as grandes coisas que o Senhor faz: quem volta rindo mediante o choro anterior, volta rindo pra valer.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Fugir do templo é sobreviver sozinho, e sem Deus (Ageu 1.1-15)


É muito importante quando localizamos o lugar e o tempo de um profeta. Assim compreendemos que o profeta e suas palavras não são alheias, soltas, sem destino, sem objetividade, mas são concretas na história que o cerca. Ageu tem sua atuação localizada. O livro inicia indicando o mundo persa, em agosto de 520 antes da era cristã – a narrativa do próprio livro e os personagens nos leva a tal conclusão.
O texto de Ageu é um panfleto. Escrever não era uma prática comum, principalmente pelo custo e pela necessidade do conhecimento para escrever. Ler e escrever não eram para todos, daí a tradição oral como maneira cultural e condicional do povo aproximar-se das palavras. Nosso panfleto é organizado em dois capítulos com 38 versículos ao todo. Não é um livro, e isso permite que sendo um panfleto possa estar mais vivo e presente nas mãos dos que lêem, permitindo a facilidade para a maioria ouvir – o panfleto circulava com maior intensidade nas mãos dos leitores e, consequentemente, os que ouviam eram muitos, e tudo se guardava, independentemente se havia alguma consideração com o profeta.

O texto

No 2º. ano do rei Dario, no 6º. mês, no 1º. dia do mês, aconteceu a palavra de Javé através do profeta Ageu a Zorobabel, filho de Salatiel, o intendente de Judá, e a Josué, filho de Josedec, o sumo sacerdote, dizendo:

.....Assim disse Javé dos Exércitos:
........Este povo disse:
........Agora ainda não chegou o tempo de ser construída a casa de Javé!
.....E aconteceu a palavra de Javé através do profeta Ageu, dizendo:
........Para vós, sim para vós é tempo para morardes em vossas casas
........apaineladas, enquanto esta casa fica em ruínas?!
.....Agora!
.....Assim disse Javé dos Exércitos:
........Dirigi vossa atenção à vossa situação:
........Semeastes muito,
........mas colhestes pouco.
........Comestes,
........mas não para fartar-vos.
........Bebestes,
........mas não para saciar-vos.
........Vos vestistes,
........mas não para aquecer-vos.
........O assalariado assalaria-se para dentro de um saquitel [pequeno saco] furado!
.....Assim disse Javé dos Exércitos:
........Dirigi vossa atenção à vossa situação:
........Subi à montanha!
........Trazei madeira!
........Construí a casa!
........Dela me agradarei.
........Serei glorificado!
............Disse Javé.
........Aguardastes abundância
........e eis escassez.
........Trouxestes para casa
........e o dissipei.
........Por quê? – Dito de Javé dos Exércitos.
........Por causa de minha casa que continua em ruínas, enquanto dentre vós cada
........qual corre no interesse de sua casa.
........Por isso contra vós os céus retiveram o orvalho, a terra reteve seu fruto.
........Convoquei seca sobre a terra, sobre os montes, sobre o cereal, sobre o
........mosto, sobre o óleo e sobre o que a roça produz, sobre pessoas, sobre
........animais e sobre todo trabalho das mãos.

Zorobabel, filho de Salatiel, Josué, filho de Josedec, o sumo sacerdote, e todo o resto do povo ouviram a voz de Javé, seu Deus, e as palavras do profeta Ageu, como lhe ordenara Javé, seu Deus. O povo temeu a Javé. Disse Ageu, o mensageiro de Javé no encargo de mensageiro de Javé, ao povo: eu mesmo estou convosco, dito de Javé.

Javé suscitou o espírito de Zorobabel, filho de Salatiel, intendente de Judá, o espírito de Josué, filho de Josedec, o sumo sacerdote, e o espírito de todo o resto do povo. Vieram e se puseram ao trabalho na casa de Javé dos Exércitos, seu Deus, no 24º. dia do 6º. mês.

Pensando o texto

É uma tarefa difícil compreender o texto de Ageu, mas é prazerosamente desafiadora. Difícil pela distância que há do leitor moderno, mas é desafiadora porque o texto continua vivo diante de nossos olhos.
Não se sabe nada de Ageu. Talvez tenha divido a mesa do alimento com o profeta Zacarias. Viveram no mesmo tempo.
O grande ponto inicial no livro do profeta é que ele vai em direção aos poderes civis e religiosos – representados pela “Igreja e Estado”, entregando a mensagem do Deus conhecido. Em primeira instância a palavra vai ao destino certo, a quem deveria ouvir primeiro – o “governador” e o “bispo”. O problema que justifica a palavra de Deus pelo profeta, na expressão do nosso texto, é que Deus foi isolado, esquecido, mal-representado, uma vez que o símbolo de sua relação com seu povo estava no chão: o templo.
O povo diz – “agora não!”. E é esta a queixa de Deus. Afinal, está “pegando mal” a figura das casas bem construídas em volta dos tocos de destruição do templo. Jerusalém, portanto, torna-se o símbolo de um lugar para viver em casa própria, sem definição de um Deus que a caracteriza – não há um Deus na cidade onde todos possam ver.
Mas Deus não deixa por menos, chama o povo para uma auto-reflexão. Muitas sementes foram jogadas. O povo investiu na semeadura, mas decepcionou-se com a colheita – a comida não mata a fome, pois é alimento insuficiente – alguns pais terão que alimentar apenas seus filhos. A bebida, o vinho, somente molha os lábios – a taça não transborda. As roupas apenas escondem a nudez – o armário sempre se repete. E o salário passa correndo sem ser identificado. Não há renda substancial, digna para a sobrevivência da família. Deus alerta: “Parem para pensar!”.
O texto continua demonstrando que Deus os quer mais perto, principalmente, que eles ocupem sua atenção com aquilo que faz com que Deus seja lembrado. Deus quer o templo de volta. Pensando com nossos botões, percebemos que o templo não era um fim em si mesmo, mas era uma maneira visível para que Deus se mantivesse na memória de um povo que caminhava com o esquecimento.
O templo era para que Deus fosse glorificado – apenas Deus. Era para marcar a presença do Deus libertador de exílios. Portanto, a palavra de ordem era: “vamos construir”.
Deus fechou a mão. A escassez do campo e do alimento foi a maneira para provar o fato de que Deus carecia da glorificação do seu povo. Não que tal glorificação fosse vital para sua existência, mas fica bem cantar louvores ao Deus conhecido. A escassez do campo é a demonstração da escassez de tudo – não havia alimento, cereal e outros – a roça já não era mais a mesma, da mesma forma que não havia nenhum sentimento para com Deus, e demonstração de amor pelo mesmo.
A “Igreja e o Estado” ouviram a voz de Deus. O povo igualmente ouviu a voz de Deus. Quando Deus é ouvido, Ele se manifesta sua presença.
“Zorobabel, filho de Salatiel, Josué, filho de Josedec, o sumo sacerdote, e todo o resto do povo ouviram a voz de Javé, seu Deus, e as palavras do profeta Ageu”
“ [...] eu mesmo estou convosco, dito de Javé”
Em seguida, o espírito de todos se renderam a Deus, e fizeram aquilo que agradasse a Deus – o templo.
O templo foi para Deus uma constatação de que o povo estava em torno dEle. Para Javé, a presença do templo anunciava a presença de Deus. É Javé, Aquele que faz com que a comida, o aconchego, a alegria e o trabalho permaneçam sempre na vida do povo.
O templo anunciou, como um termômetro, o grau de consciência sobre quem era Deus, e sua importância na vida cotidiana do povo – inicialmente, estava abaixo de zero.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Abrir o álbum [Bíblia] e rever a imagem de Jesus nascido - justifica a nossa vida...

O Messias da Bíblia é Jesus Cristo de Nazaré, nosso Senhor, Filho de Deus, uma das três Pessoas da Santíssima Trindade.

"[...] o qual é imagem do Deus invisível, primogênito de toda criação, porque nele foram criadas as coisas todas [...]" (Col. 1.15)

"porque nele habita toda a plenitude da divindade corporalmente [...]" (Col. 2.9)

Deus veio a nós. Deus nos visitou de maneira que o víssemos como somos vistos. Deus se fez conhecido. O nascimento marca o início da visita. Jesus nasce em nosso meio, à nossa maneira, dando à sua mãe as mesmas sensações que nossas mães tiveram e ainda têm. Humanamente foi um dia comum, num lugar mais do que comum, ou melhor, incomum aos homens. Houve choro infantil, suor, sangue, cordão umbilical rompido, preocupação de José - seu pai a quem Deus confiou educação. Houve expectativas no momento do nascimento, onde os animais e os pastores eram os primeiros a presenciarem a vinda de Deus. Deus estava chegando de dentro de uma mulher. O Salvador, o libertador dos homens, aquele que seria o único a dar esperança cumprida. Nós fomos visitados por Deus. É a Bíblia, palavra divina, que nos narra, nos fala, nos impressiona por tal fato.
Há muito o que comemorar. A estrela brilhou, os anjos cantaram. Deus não preparou uma festa na terra, mas festejou no céu. Cristo é hoje a nossa festa porque nasceu. Jesus é nossa celebração natalina porque fomos encontrados por Aquele que precisavamos encontrar. A vinda do Senhor da vida não é um momento pontual, uma data para ser lembrada por apenas o seu próprio dia, mas a lembrança se dá uma vez que é um evento contínuo. Os homens são continuamente convidados a lembrar que Deus esteve conosco, e ainda está no coração dos que creêm.
A vinda de Deus não é uma data religiosa. Na viração de um dia, Deus reapareceu. Parece que estávamos no jardim do Éden, e Deus apareceu de maneira que pudesse ser visto, ouvido, tocado (1 João 1.1-4). Por causa de Cristo, hoje, Deus é quem nos toca. É Ele que vem em nosso estábulo nos visitar, trazendo o presente da vida abundante, poupando-nos do mesmo fim que Ele mesmo teve no madeiro.
Nosso regozijo é que com a Bíblia nas mãos, vivenciamos intensamente a história do nascimento e seu desfecho. É preciso nos apropriarmos de olhos contemplativos e atentos ao Deus-Filho. O Deus que, em Jesus, parece conosco. Nossos olhos devem ficar fixos na criança, que mais tarde nos ensinaria tudo sobre nós mesmos.
É a criança embalada nos braços de seus pais, que no tempo certo abraçou a humanidade, e lhes deu salvação, direção, apontando para Deus, de forma que fôssemos completados. Pois agora, já sabemos quem é Deus e o quanto Ele nos ama. Uma data como o Natal nos serve para irmos na procura da criança [o menino Deus que tornou-se homem] e levar-lhe presentes. Que presentes são estes? São três também: nosso corpo, mente e coração...
Deus conosco, o Espírito conosco, o Cristo conosco, inicialmente criança.
A Bíblia é o álbum da família de Deus. Quando Jesus nasceu, toda a História fez sentido. O ato de recordar sempre, visitando as imagens do Deus menino, é manter o reconhecimento da nossa existência em Deus, em Jesus Cristo, nosso Senhor.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Fiquei doente, fiquei envergonhado, mas Deus me ouviu... (Salmo 30)

(1) Eu te exalto, Iahweh,
.........porque me livraste,
.........não deixaste meus inimigos rirem de mim.

(2) Iahweh, meu Deus,
.........gritei a ti e me curaste.

(3) Iahweh, tiraste minha vida do Xeol, [da morte]
.........tu me reavivaste dentre os que descem à cova.

(4) Tocai para Iahweh, fiéis seus,
.........celebrai sua memória sagrada.

(5) Sua ira dura um momento,
.........seu favor a vida inteira;
............de tarde vem o pranto,
...............de manhã gritos de alegria.

(6) Quanto a mim, dizia tranquilo:
.........“nada, jamais, me fará tropeçar!”

(7) Iahweh, teu favor me firmara sobre fortes montanhas;
.........mas escondeste tua face e eu fiquei perturbado.

(8) A ti, Iahweh, eu gritava,
.........ao meu Deus eu supliquei:

(9)............que ganhas com meu sangue,
...............com minha descida à cova?
...............acaso te louva o pó, anunciando tua verdade?

(10) Ouve, Iahweh,
.........tem piedade de mim!
............Sê o meu socorro, Iahweh!

(11) Transformaste o meu luto em dança,
.........tiraste meu pano grosseiro [minha roupa de luto]
...............e me cingiste de alegria.

(12) Por isso meu coração te cantará sem mais se calar.
.........Iahweh, meu Deus, eu te louvarei para sempre.

A canção é de ação de graças individual. O ambiente é no templo, onde a canção se faz executar diante do conhecimento sobre a libertação de Deus para seu povo.

Do v.1-3 nota-se uma introdução onde o salmista celebra ao Senhor pelo livramento. Ele gritou (v.2) e o Senhor o atendeu, tapando a boca dos inimigos. Nota-se um ar de morte nesta introdução (1-3). É a doença já rotineira que alcança o salmista. É o desespero e humilhação. Não há dinheiro para curar-se, mas há um Deus que outras nações - povos inimigos - não têm!

No núcleo do salmo (4-10) o salmista se dirige aos fiéis que estão dentro do templo. É na verdade, um testemunho catequético para que outros aprendam quem é Deus. É ensino, é testemunho, é celebração, o salmista expressa a imagem curadora e cuidadora de Deus.

O salmista canta. Ele canta que sua morte não oferecerá proveito. Mas reclama que o canto é a prova de que se está vivo, pois, ninguém pode cantar enquanto estiver morto. A morte não anuncia, mas cala. Ele quer ser revigorado, liberto, para cantar e dançar a verdade de Deus. Ele pediu a Deus e foi atendido.

No entanto, o livramento da morte dado por Deus é algo que converge em testemunho. O livramento da morte não significa uma benção unicamente pessoal – o salmista possui um olhar mais abrangente, menos egoísta. Ele compreende que precisa da vida para que seu espírito testemunhe quem é Deus (v.9, 11-12). Deus será exaltado no templo e fora do templo porque a morte não veio, e nem a vergonha.

O salmo é de ação de graça individual, mas a benção cantada não é pessoal e nem individual, pois o resultado da graça de Deus, o livramento, se transforma em reunião no templo onde todos saberão que ele foi alcançado por Deus. O salmista tem consciência de que o milagre de Deus, o livramento, a vida dada por Deus, serve para glorificar quem Deus é, e nada mais. Creio que é um pensamento bastante moderno - ainda não chegamos unânimes neste pensamento que muitos rotulam como arcaico.

Na conclusão (11-12) o salmista não se contenta em oferecer sacrifícios no templo, mas sim, oferecer o que há de mais íntimo – a alegria de seu espírito, que até então apenas ele poderia enxergar, mas que agora, sai pulando com novas vestes e muitas canções... talvez, madrugando com a cantoria...

A resposta do salmista na canção não é litúrgica, mas vivencial. Ele canta no templo, mas a alegria não está no templo. Ele quer converter o templo. Ele deseja contagiar o templo para que a veste do templo também seja trocada - o templo estava igualmente adoecido, necessitava ser curado uma vez que Deus não estava mais lá... onde Deus estava? Deus estava no salmista. Onde Deus fica é alegria e cantoria...
Deus conosco!!!!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Quem fica de pé... é feliz! (Salmo 1)

Feliz o homem
....... que não vai ao conselho dos ímpios,
....... não pára no caminho dos pecadores,
....... nem se assenta na roda dos zombadores.
Pelo contrário:
....... seu prazer está na lei do Senhor,
....... e medita sua lei, dia e noite.
Ele é como árvore
....... plantada junto d´água corrente:
....... dá seu fruto no tempo que precisa dar
....... e suas folhas nunca murcham;
....... tudo o que ele faz é bem sucedido.
Não são assim os ímpios! Não são assim!
....... pelo contrário:
....... são como a palha que o vento arrebata... (dispersa)
Por isso os ímpios não ficarão de pé no julgamento,
....... nem os pecadores na assembléia dos justos.
Porque o Senhor conhece o caminho dos justos,
....... mas o caminho dos ímpios perece.

Analisando...

O salmo é sapiencial, é resultado de sabedoria. Ele apresenta dois caminhos. Na leitura do salmo compreende-se que existem dois caminhos: os maus que zombam de Deus e do seu povo, e dos bons que andam com Deus...

O início do conjunto do salmo se dá através da primeira palavra: “Feliz”... – a verdade é que seguir o salmo é uma bem-aventurança, pois quem dá as costas à maldade e abraça a bondade em Deus é feliz. Aliás, felicidade é o convite constante de Deus. O salmo chama para a felicidade assim como Jesus, no sermão da montanha, reinterpreta a lei apontando a felicidade como contraproposta.

Em um segundo pensamento, temos a “meditação” – para assimilar a Torá, a lei, a palavra de Deus. Meditar na lei de Deus é viver com vitalidade, que se abastece de águas correntes, de forma que não murcha (Sl 92.13s)

O salmo nos fala que os justos não aderem de maneira alguma à ordem social perversa, promovida pelos ímpios. Mas ao contrário, meditam no projeto de Deus. (v.3)

Que não vai, não pára, nem se assenta... (v.1)

Segundo o salmista, o justo não vai onde os ímpios comungam. Não pára no caminho onde os perversos estão para se assentar com eles em harmonia. Não significa que deva desviar do caminho, mas passar por ele sem ser laçado. O bom conselho é que com tais nem comeis – disse Jesus.

O prazer está na Bíblia, no texto, naquilo que vem da boca de Deus (v.2)

“Medita” significa “murmura” – tal recitação em voz baixa é meditação (Sl 63.7; 77.13; 143.5). Meditar a Bíblia, a Palavra de Deus, é torná-la parte de tudo na vida. Não há vida qualitativa, vida bem vivida, vista com honestidade, se a Bíblia não for parte de tudo. Meditar é viver com vitalidade, murmurando o texto, sem religiosidade repetitiva, mas deixando o texto se fazer presente e constante na lembrança, na razão, na emoção, e na fé.
O texto bíblico é a boca de Deus. Quando se tem a Bíblia nas mãos, se tem a boca de Deus presente.

O projeto de Deus é duradouro (v.3)

O justo nunca murcha, se mantendo firme e enraizado. Enquanto que os perversos são leves e inconsistentes (v.4b). Quem olha para Deus com consideração, desconsiderando as ações e expressões flácidas daqueles que falam de Deus sem conhecer, daqueles que não possuem raízes, são preservados.

Um salmo que aponta o caminho...

O salmo 1 aponta o caminho. O povo de Israel está caminhando em seu contexto, enquanto compreendem sobre aquilo que é justo e injusto. No caminho em direção a Deus cruzam-se os dois lados. Deus conhece o caminho. Quem não conhece o caminho são os injustos. O caminho que Deus conhece é o caminho onde o justo anda. É o caminho que o Senhor abre e mostra excelente. O justo reconhece, por isso não se engana. O Cristo do caminho assume quem Ele é, dizendo que ninguém vai ao Pai se não for pela trilha que Ele abre. Na trilha de Jesus, o percurso tem como paisagem a verdade – palavras enraizadas que não são arrancadas, e vida – a cada trecho percorrido a vida vais e revelando em Jesus, e não há como perecer.