sexta-feira, 20 de junho de 2014

Reflexão acerca do chamamento, da formação e ação pastoral com análise nos textos de Mateus 9.35-38 e Atos 20.28

Aos amigos e irmãos que abraçaram a ação pastoral como causa sem preço, sem prêmios, sem a necessidade de notoriedade, mas pelo desejo ardente e altruísta em tornar Cristo cada vez mais notório, por meio de suas próprias trajetórias, onde o rastro é o de Jesus – pegadas que marcam melhor nosso chão. A grande colheita é a razão do chamamento (Mt 9.35-38) Cuidai de vós mesmos, diz respeito à formação (At 20.28) Cuidai de todo o rebanho com responsabilidade dada pelo Santo Espírito, rebanho adquirido com sofrimento, é o significado da ação pastoral (At 20.28) Mateus 9.35-38 Jesus era camponês. Ele tinha uma linguagem de homem da terra (somente Marcos o trata como “carpinteiro” na parte “a” do texto de Mc 6.3a – Mateus o considera como “filho do carpinteiro”, no texto de Mt 13.55 – e Lucas relata como “filho de José”) – suas parábolas e outras palavras possuem o cheiro da terra, falam com dose de campo (árvores e os seus frutos, a seara e os trabalhadores, o semeador, a semente, joio e trigo, grão de mostarda, figueira estéril, parábola da figueira como aviso de um novo tempo, azeite, trabalhadores da vinha, colheita). Existe um fato que diz respeito a uma multidão sem direção, sem instrução, sem cuidado, em estado de miséria. A questão é que ovelha sem pastor é ovelha sem alimento, sem proteção contra o predador. No texto paralelo de Marcos 6.30ss., no momento que antecede a multiplicação, há fome, daí Jesus dá o alimento e pede que os trabalhadores distribuam o que se colheu na multiplicação – “deem vocês mesmos comida a eles”. É preciso pensar que a colheita está cheia (a colheita é o resultado de algo que já se plantou – Deus plantou, Ele é o Senhor, o dono da plantação). O olhar de Jesus é porque o povo está na miséria, esquecido, solitário! É preciso colher e servir as mesas. Jesus não está olhando para a Igreja dele, mas para os homens em geral – Jesus é o Pastor para todos os homens. Ele chama os discípulos para fazerem oração (“peçam ao dono da plantação”) para que levantem pessoas para alimentarem a humanidade. A colheita é o alimento que Deus já destinou aos homens. Deus já plantou aquilo que os trabalhadores irão colher e fornecer como alimento (o alimento é físico mesmo, e é também para a alma – o povo necessita estar com a “pançinha” cheia, e estar com seu interior repleto de Deus). Atos 20.28 Depois que o evangelho caminhou já na 3ª viagem missionária de Paulo – 60 d.C., ele reúne os presbíteros da igreja de Éfeso, e lhes orienta com ar de despedida (Paulo vai para Jerusalém). O intento inicial de Paulo é uma recomendação de cuidado para com os falsos pastores que viriam para criar um mercado religioso, na intenção de arrebanhar para si as ovelhas. Paulo quer deixar claro que os presbíteros não devem se vender, entrando na competição religiosa (At 20.29-30). Paulo atenta para que os presbíteros sempre avaliem de que lado eles estão. Qual é o time que joga com sinceridade, e quer apenas fazer o gol (o outro time quer dar “canelada” e ganhar o jogo na base da roubalheira). Mas os pastores confiados pelo Santo Espírito jogam honestamente. Os pastores confiados pelo Santo Espírito colhem para alimentar, e alimentam honestamente – até porque o alimento não veio deles, mas do dono da plantação. Em suma, o alimento está estocado. É tirar do pé e levar para as mesas (mesas que estão dentro, assim como mesas que estão fora da igreja, onde homens como “Levi” mora, e necessitam tornarem-se “Mateus”). Um trabalhador experiente como Paulo nos diz: “estejam atentos na vossa própria continuada formação: caráter, conhecimento, sensatez... “Preparem-se!”. Tenham um olho critico sobre sua forma de viver (não é um conselho legalista, mas de amigo-irmão) – “sejam felizes naquilo que vocês fazem: pastorear”, mas estejam satisfeitos com vosso modo de viver, pois a insatisfação contagia e contamina. É difícil ser pastor em meio ao caos – a vida fora do pastorado é um grito afobado, às vezes desesperador, mas no âmbito pastoral, no arraial eclesiástico tudo parece estar bem. A atenção primeira é para nós mesmos. É preciso estar em paz com Deus. É preciso buscar a paz com a vida, dominando-a e não sendo dominado por ela. Paulo nos escreve que: “com a força que Cristo me dá, posso enfrentar qualquer situação” (Fp 4.13 – NTHL). Dada à devida atenção, o dever é alimentar o rebanho. De onde vem o alimento? O alimento vem da plantação de Deus, onde Ele colocou a mão. A ação pastoral consiste em alimentar já estando satisfeito. O desafio é dar de comer com disposição, atentando o chamamento, a formação seguida e continuada, sem permitir pausas. A dedicação é também para reavaliações, reciclagem intelectual, e ação pastoral com simplicidade, com diretrizes que exaltam a pessoalidade. Não se devem colocar agrotóxicos no alimento que vem de Deus e passa pelas mãos pastorais. Não é do colhedor o preparo da terra, mas do Semeador. Não haja nunca um ingrediente estranhamente artificial no alimento semeado e colhido, tão somente pelo julgamento em ser saudável para a igreja. Isso significa que não se deve olhar o vizinho (outras casas de pão, de alimento). Aqueles a quem Paulo recomendou, foram orientados ao uso do alimento básico – presente na plantação de Deus. É na horta do quintal da comunidade que tem Cristo como Semeador, que se encontra o alimento simples, nutritivo, e que é servido durante os dois mil anos. Ainda que o modismo eclesiástico busque alimentos “fast-foods”, nada supera a receita do Senhor. Infelizmente, assistiremos muita desnutrição, mas no final da história, somos nós quem escolhemos em qual mesa sentar para ceiarmos até a volta de Jesus.

sábado, 11 de maio de 2013

Pai nosso, pão nosso, oração nossa - Mateus 6.5-13

Nosso texto está no evangelho de Mateus 6.5-13... Estamos localizados no Sermão da Montanha. É o momento da oração, onde Jesus tratará da oração. Antes de falar com Deus, Jesus ensina sobre falar com o próximo. E para chegar a Deus é necessário esbarrar nas pessoas (por meio do amor, da justiça, da ajuda). A oração, segundo Jesus, não carece dos olhares - ser observado não é essencial; orar junto sim, uns com os outros). Os fariseus conseguiam os olhares de todos (essa é a recompensa), pois eles querem elogios. No reino de Deus não há elogios, existem sim, atos que expressam gratidão uns com os outros, por motivo da dispensação do amor, da justiça e da ajuda. Veja que para Jesus, a oração judaica em alta voz não era mais o indicado, o referencial (onde alguém estivesse, no momento e lugar, parava-se para orar devido o horário sagrado da oração). A oração de Jesus é aquela que deve produzir efeito sem que necessite de testemunhas. Jesus nos mostra que falar com o Pai é falar com o Pai - apenas falar com o Pai! É uma relação nova, intimista, sem cerimônias, porém, não feita de qualquer maneira, de qualquer jeito, por isso então, Ele ensina. Mas a oração, ainda que seja em secreto, recolhida, muitas vezes no silêncio, ela é feita por todos, em relação a todos - "Pai nosso", "Pão nosso"). Temos narrativas de Jesus orando no monte, sozinho com o Pai. Jesus orava no monte não pelo poder do monte, mas pelo poder do tempo dedicado. De fato, no secreto, entre "Deus e eu", somente Ele ouve minhas orações, somente Ele vê quem sou e como estou, sabendo o que está dentro de mim. Somente Ele responde - é quando Ele tem a chance de falar. Estamos falando de orações que somente Deus é convidado à ouvir - existe a oração comunitária onde um conduz e todos devem concordar. A oração visível e audível dos fariseus tem por recompensa ser visível, expressando uma pseuda espiritualidade que não condizia com a sua hipocrisia - o anônimo sincero e quieto pode ser mai verdadeiro. O termo no v.6 "te recompensará" do Pai em segredo, é que Ele parou para ouvir - acredito que nem sempre Ele pára para ouvir orações sem segredo, porque são orações feitas para todos ouvirem, menos Deus. A prova que Ele pára para nos ouvir é que não precisamos fazer repetições. Jesus valoriza o ouvir do Pai - o Pai ouve de verdade, e não necessita ser sempre lembrado, pressionado... Os pagãos (gentios) não estavam habituados a falarem com um Deus tão próximo e tão atento. Os pagãos gritavam, insistiam. No entanto, somente o Pai conhece as necessidades - Pai é quem conhece as necessidades. Jesus fala "vosso Pai" v.8, Aquele que ouve com atenção. Portanto, orareis assim: Pai nosso que estais no céu - "Pai nosso" do quarto secreto, "no céu", não somente do quarto. O quarto e o céu são o mesmo ambiente onde Deus está. Santificado seja o Teu nome - o "Teu nome" está acima de todos e de tudo, tenha Ele seu merecido lugar. Venha o Teu reino - desejamos Tua presença. Faça-se a Tua vontade - e que tal presença predomine nas decisões - que sejamos obedientes. Assim na terra como no céu - a Tua vontade está em todo lugar. O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje - o pão é nosso, e é Deus quem nos dá o alimento. É o pedido-concordância sobre o alimento garantido de cada dia. O alimento hoje mostra nosso limite e dependência, tanto que o alimento é "preocupação" para hoje. Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores - à Deus é sempre bom pedir perdão. Pedir perdão após nossa confissão é sinal de que há gratidão. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal - que a tentação não nos convença, e que estejamos livres da ação do diabo. São 7 pedidos: v.9b-10 são 3 pedidos (nome, reino, vontade); 11-13 são 4 pedidos (pão, perdão, vitória, liberdade). Nós oramos a Deus, inspirados em nosso relacionamento comunitário, ou relacionamentos pessoais - o secreto da nossa oração não é o isolamento ou o individualismo religioso. Toda a comunidade (irmãos) está no lugar do secreto. O secreto é somente o jeito de chegar a Deus. Se chegamos sozinhos na presença de Deus em nosso próprio nome, pelos nossos motivos, é como se estivéssemos na praça, na sinagoga, orando em voz alta, buscando nossa recompensa. Nas esquinas das praças ou na sinagoga, nossas orações são públicas, todos podem escutar, mas elas necessitam ser de interesse comunitário, de representação comunitária. Pessoalmente, vou em direção a Deus, inspirado pelos irmãos em minha volta, sobre o que eles podem fazer por mim, mas tão importante ainda é o que eu posso fazer por eles. A oração de Jesus é de contínua concordância com o Pai que é nosso - ... eu concordo que Teu nome está acima de todo nome; ... eu concordo que Teu reino é a nossa única saída e esperança; ... eu concordo que Tua vontade é boa, perfeita, agradável, envolvente, completa e convincente; ... eu concordo que o pão vem do Senhor, e entro na fila para pegar, para receber o de hoje; ... eu concordo que preciso do Teu perdão, da mesma forma que sei que não posso cobrar de ninguém, não posso julgar ninguém; ... eu concordo que a tentação me seduz, por isso desejo a sua ajuda; ... eu concordo que preciso de Ti para, muitas vezes, me livrar do diabo (maligno).

Eu estou indo, e você? Vai continuar aí? - Josué 24.14-25

É necessário lermos o livro de Josué 24.14-25... Anterior a este texto, Josué , as tribos de Israel (24.1-13). Daí ele traz à luz a história desde o chamamento de Abraão, passando pelos deuses de seus pais, pela caminhada de Deus com Abraão, com Isaac, Jacó e Esaú (Esaú se dirige para as montanhas, Jacó vai para o Egito). Vamos caminhar no texto, dentro de uma trajetória, onde visualizemos os segmentos que se dirigem ao nosso texto de estudo... Deus levantou Moisés e Arão. O Egito foi ferido e eles saíram de lá. Enfim, chegam na terra prometida. Josué é o personagem do nosso texto. Ele é o profeta que fala do passado. Suas palavras indicam que não houve luta da parte do povo que Deus cuidou ("não foi tua espada, nem com o teu arco" 24.12b). Deus mandou vespas para expulsarem os dois reis amorreus - 24.12. A terra foi dada sem que ninguém trabalhasse - a roça estava pronta. Quanto às cidades, não precisaram edificar, mas é chegar e morar - 24.12-13. O povo comeu bem: o produto da vinha e dos olivais vieram sem que houvesse o trabalha em plantar - 24.13. Depois que Josué narra a história e a glória da sustentação, ele orienta: 1) temam o Senhor (entreguem-se à sua presença; 2) sirvam-no inteiramente, completamente, e apenas a Ele (fidelidade); 3) joguem fora os deuses aos quais serviram os pais - o convite para jogar os deuses acontece duas vezes em nosso texto - 24.14,23. O povo demonstrou não ter para onde ir, assim como os discípulos no segundo testamento, em João 6 - o pão foi dado, o pão é dado. O povo percebendo a a real e futura ameaça em abandonar a Deus, confessa a Deus como Senhor. Josué deixa claro que a palavra do povo seria o testemunho que precisavam. A aliança, portanto, é renovada. É necessário notarmos que os texto do Antigo Testamento são para nós vivenciais, e não utilitários. Vivenciais por falarem ao nosso coração e razão, e sermos transformados. Se utilitários, para falarem ao nosso interesse material, interesse exteriorizado por meio do bem estar - está é uma ótica de muitos pregadores de pregação utilitária. Não há neste texto nenhuma condição de troca ou barganha, há uma chamada à consciência. A consciência que é antecedida pelas questões: quem somos? onde estamos? quem está acima de nós? o que devemos a Ele? A era de Josué é o desfecho das experiências do povo com Deus. O texto aplicado nos diz: - quem caminha com Deus precisa rever e reler esta caminhada constantemente - Josué fez uma releitura da vida do povo. A releitura da vida é positiva - o que Deus fez e tem feito. Nos remete para algumas perguntas: o que sou hoje? como cheguei até aqui? tudo isso me faz lembrar de Deus? quem chegou sozinho onde está hoje? quem lutou sozinho? quem adquiriu casa sozinho? quem comeu apenas do esforço de suas próprias mãos? É preciso rever, reler os deuses assumidos, para então, jogá-los fora... A releitura, a lembrança é o reconhecimento da importância daquilo que foi, para se chegar e compreender aquilo que é. Josué traz à tona um ato de valorização, para não perder Deus de vista, para querer enxergá-lo mais. - É preciso inclinar o coração a Deus - é lançado fora tudo o que nos seduziu, nos roubou o coração. Em troca, inclinamos o coração a Deus. Na verdade, inclinamos a vida (razão, sentimentos, decisões, emoções). Inclinar o coração a Deus é entregar-se em amor, sem medidas, sem limites. É um ato de adoração. Adoração sem pensar em dar presentes a Deus. Deus não carece de presentes, de agrados emocionais etc - olhando para Jesus, no segundo testamento, o ouro, incenso e mirra não possuem espaço no estábulo. Presente para Deus é lançar fora, jogar fora aquilo que está em seu lugar. - servir e obedecer a Deus é a única decisão - é uma decisão familiar, uma decisão coletiva. Tal decisão adquire força na coletividade. A Igreja se reúne para falar sobre quem Deus foi e é. Nós falamos ao mundo sobre quem é o Deus a quem servimos e serviremos. Nós lembramos entre nós mesmos qual é o nosso Deus. Incentivamo-nos a abandonar o passado, lançando-o fora, e comprometendo-se com o Deus que um dia se comprometeu conosco.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Deus reserva o pão – corremos para buscá-lo, sabendo que é presente sempre e nunca estraga (Eclesiastes 11.1-8)

O Eclesiastes não é religioso, mas vivencial. O pregador que fala à assembleia, no livro do Eclesiastes (qohelet), posiciona a vida em lugar sagrado, apesar de andar nas ruas. O pregador, o Eclesiastes caminha nos lugares comuns, pois o valor da vida pensada por Deus não poderia ser vulgarmente considerada, mas tem valor sagrado. Não é apenas o espírito humano que visita a concepção do “sagrado”, mas também o homem em situações concretas. Diante do nosso texto, quase ao final do livro (11.1), o pão lançado sobre as águas é a estrada utilizada para ir e vir com o produto do trabalho. É suposto que o rei Salomão, sendo este nosso personagem na autoria, possuísse embarcação e realizasse negociações externas. De qualquer maneira são as águas o caminho do sustento da venda e compra. É o começo da trilha que conduz ao acreditar que Deus sustentará. Repartir com sete ou oito é a presença marcante dos números na cultura judaica (v.2). É a família, ou o grupo mais que aproximado. As águas presenteiam o produto do trabalho lançado. Mas tal produto não é exclusivo para quem lança o pão. Pois o pão é sinônimo de coletividade – a casa do pão possui portas largas. Repartir é um princípio de sabedoria, até porque a terra traz surpresas. Na mão de muitos, inicialmente sete ou oito, o produto do trabalho é preservado, onde não há falta para ninguém uma vez que o espirito de partilha igualmente é um princípio de sabedoria. Deus enche as nuvens (v.3). Não é apenas uma situação físico-metereológica, mas é a mão sustentadora de Deus sobre a terra que necessita da chuva. A mesma chuva graciosa, muitas vezes bruta, faz cair a árvore ou para um lado ou para o outro. Seja qual for a posição, a árvore não se move por vontade própria, e nem serve para ser lançada ao fogo, mas aproveitada pelos mesmos sete ou oito, na confecção de utilitários. Por que não pensar que Deus abençoa na ação e reação natural? Ao menos pelo olhar do sábio que possuía menores complicações em seu contexto. Será? É uma ótima atração observar e sentir o vento, mas quando o assunto é lançar e esperar o pão retornar, deixa-se de olhar pra cima – vento e nuvens (v.4), e passa a acompanhar o processo da terra. Até porque o vento é impreciso, como impreciso é o conceito da concepção humana no ventre materno – a desinformação sobre a formação dos ossos de uma criança (v.5), assim também é vaidosa nossa afirmação a respeito da ação de Deus. Em suma, faça o que sabes fazer. A semeadura é algo que sai de nossas mãos, bem como a colheita do resultado de tal. O que sabemos está abaixo de nossa cabeça, ainda assim com inúmeras imprecisões. O sábio ainda nos diz que é preciso vigiar o que se sabe fazer. Não largar mão da terra, descansando no acreditar que ela nos é escrava. O pão lançado e retornado não é jogado aos cantos, mas com sabedoria é cultivado (v.6). A luz é doce, nas palavras do sábio (v.7). Porque é na luz que tudo se realiza. Ele nos convida a aproveitarmos a claridade. Deus acende a luz para enxergarmos o pão cultivado. Mas dias de trevas estão presentes da mesma forma, não apenas por não enxergar, mas porque a sabedoria exige consciência das situações. Quando o pão vem em demasia é motivo de festa, quando não, guarda-se a festa para mais tarde. Não serão poucos os dias, pois em todos eles a vida se adapta (v.8). Contudo, o sábio nos avisa que tal vida é cercada pela vaidade. Pois é nas palavras de Jesus que encontramos a resposta: “ [...] não é a vida mais do que o alimento [...]? Observai as aves dos céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta [...]” (Mateus 6.25b-26). Evidentemente, a sabedoria em nosso texto se encontra por intermédio da experiência em não tornar tal sabedoria comum, na sugestão do sábio. O convite do sábio diz respeito a uma tomada de decisão e de direção nos procedimentos adotados. Essa é a Bíblia, a Palavra de Deus que nos empurra para melhores lugares. Deus conosco

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Jesus nascido... Deus acampado conosco...

O apóstolo João, juntamente com sua comunidade, no seu tempo, no contexto onde eles estão inseridos, tiveram como objetivo apresentar um Cristo que pelo tempo já decorrido, era visto distanciadamente. Um Cristo com fama. Um homem que marcou sua história pelos feitos sobrenaturais, pelas falas sobrenaturais, um homem que de tão humano como é, apenas sendo o próprio Deus mesmo, assinando sua criação na encarnação humana, vivendo a vida humana, mas apropriado de uma natureza, mentalidade, sensibilidade e orientações divinas. A verdade é que João e sua comunidade nos revela que a "Palavra" (o Deus lido por meio da lei, das orações salmodiais, das bocas dos profetas, o Deus ouvido e sentido) pousa em nosso quintal. Deus em Cristo arma sua barraca, acampando no meio de nós, usufruindo e dividindo a mesma vida. É acordar e saber que Deus também mora em nosso condomínio. No entanto, merece nossa atenção pois Ele fala e age como nós, mas ao mesmo tempo como Deus quer, como Deus é. Deus tornou-se pessoa e sentou-se em nosso banco, onde sentimo-lo seu calor e sua presença. Torna-se bastante incompreendido para outros segmentos que creem em Deus sem pensá-lo como Triúno. Porém, aqueles que seguem a Jesus Cristo de Nazaré, nascido em Belém, seguem-no sabendo que é a Deus com quem estão tratando. É o filho de Deus, nascido de uma mulher, mas concebido inexplicavelmente pelo Santo Espírito. É graça e verdade contidas nele que o revelam a nós. Jesus o Cristo de Deus nos é revelado porque graça e verdade não se alojam em um homem que não tenha sido enviado especialmente de Deus. João e a comunidade testemunham que viram sua glória. Não a glória de um herói ou mártir, mas de alguém único. É Jesus o único que Deus gerou. Deus não cria um filho, Ele gera. Se somos filhos de Deus, somos adotados. Mas o único que tem a "cara" do Pai é Jesus. O lugar é inóspito. Não se tratou de um lugar apropriado onde crianças nascem, mas a estrela brilhou lá. O humilde adquiriu brilho, pois Deus visitou tudo o que era inapropriado. Os pastores foram atraídos, os sábios foram atraídos, os anjos cantaram, e até a realeza se incomodou com o fato. Deus veio a nós e nunca mais nos deixou. A imagem do Deus invisível se fez notória. A salvação nasceu na criança. Deus como criança já nos deu garantia de salvação. Bastou surgir em nosso meio como uma criança, isso nos serviu como indicação de toda a história. A criança foi seguida. Como adulto foi igualmente seguido, e jamais conseguiremos tirar nossos olhos do lugar onde Ele se encontra...: Deus conosco é conosco onde Ele se encontra - assim como a estrela se manteve no céu guiando a todos em direção a presença do Deus menino, assim o menino é nossa estrela que nunca se apagará. Imanuel... Deus conosco!

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Voltando para a casa com mantimento nas mãos (Salmo 126)

O salmo 126 está localizado na Babilônia, no exilio (a partir de 587 a.C.). Havia um sentimento nacionalista. Uma emoção em relação a saudade da terra, bem como um desejo de retornar à casa que fazia parte dos pensamentos, por todo instante – isso enquanto se vivia no lugar que não podia chamar de “seu”. Em todo tempo, o saudosismo se apresentava em cantarolar as canções que faziam parte da terra natal, da Jerusalém, do Sião sagrado. Eram músicas que transportavam os corações e mentes dos saudosos – do povo de Deus instalado na Babilônia. Eram sonhos esperançosos que sabiam e aguardavam por acontecer. Intensa foi a expressão do salmista (v.1), quando eles se encontraram de supetão, no momento que Javé alterou o cativeiro – é a saída do cativeiro indesejado, rumo ao cativeiro sonhado. “Estávamos como quem sonhando...”, trocando em miúdos, não acreditávamos o que estava acontecendo, não parecia verdade, me belisca! Foi o momento histórico: “a boca se encheu de riso e a língua de jubilo”. Foi um momento de euforia onde a alegria não se cabia, e onde e as palavras foram tomadas por expressões festivas de enaltecimento a Javé. O momento foi testemunhal. Outros povos perceberam o Deus que age. A constatação é que Javé é Deus de benfeitorias. Ele olha para o povo e luta em favor deste. Age pelos homens, pelo seu próprio povo. Ao estranho foi no mínimo curioso. A fofoca sobre o Deus Javé que age em favor dos jerusalemitas exilados, correu solto entre todos. No v.3 o salmista assume o que virou noticia: “grandes coisas Javé fez conosco: estamos contentes”. Neste instante, o texto conclui a satisfação pela ação de Deus. O salmo poderia finalizar aqui. Temos a impressão de que foi dito tudo. No entanto, o v.4 aponta como se fosse uma petição anterior, ou uma confirmação daquilo que irá acontecer. Por se tratar de uma canção, temos a possibilidade de repetição da frase. O acréscimo é o deserto do Negeb – lugar árido onde chovia raramente, mas inundava a tal ponto que quando a chuva passava havia florescimento no solo. O lugar da infertilidade tornava-se fértil, mesmo que voltasse a ser deserto. A canção termina relatando que a fertilidade é alcançada na caminhada e no choro mesmo enquanto se semeia não sabendo se a semeadura vingará. Mas quando volta, tendo o resultado da colheita, volta com riso e com o conjunto de palhas colhidas nas mãos. São os feixes nas mãos que servem como trunfo de que valeu deixar as lágrimas semearem o árido Negeb. Essas são as grandes coisas que o Senhor faz: quem volta rindo mediante o choro anterior, volta rindo pra valer.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Fugir do templo é sobreviver sozinho, e sem Deus (Ageu 1.1-15)


É muito importante quando localizamos o lugar e o tempo de um profeta. Assim compreendemos que o profeta e suas palavras não são alheias, soltas, sem destino, sem objetividade, mas são concretas na história que o cerca. Ageu tem sua atuação localizada. O livro inicia indicando o mundo persa, em agosto de 520 antes da era cristã – a narrativa do próprio livro e os personagens nos leva a tal conclusão.
O texto de Ageu é um panfleto. Escrever não era uma prática comum, principalmente pelo custo e pela necessidade do conhecimento para escrever. Ler e escrever não eram para todos, daí a tradição oral como maneira cultural e condicional do povo aproximar-se das palavras. Nosso panfleto é organizado em dois capítulos com 38 versículos ao todo. Não é um livro, e isso permite que sendo um panfleto possa estar mais vivo e presente nas mãos dos que lêem, permitindo a facilidade para a maioria ouvir – o panfleto circulava com maior intensidade nas mãos dos leitores e, consequentemente, os que ouviam eram muitos, e tudo se guardava, independentemente se havia alguma consideração com o profeta.

O texto

No 2º. ano do rei Dario, no 6º. mês, no 1º. dia do mês, aconteceu a palavra de Javé através do profeta Ageu a Zorobabel, filho de Salatiel, o intendente de Judá, e a Josué, filho de Josedec, o sumo sacerdote, dizendo:

.....Assim disse Javé dos Exércitos:
........Este povo disse:
........Agora ainda não chegou o tempo de ser construída a casa de Javé!
.....E aconteceu a palavra de Javé através do profeta Ageu, dizendo:
........Para vós, sim para vós é tempo para morardes em vossas casas
........apaineladas, enquanto esta casa fica em ruínas?!
.....Agora!
.....Assim disse Javé dos Exércitos:
........Dirigi vossa atenção à vossa situação:
........Semeastes muito,
........mas colhestes pouco.
........Comestes,
........mas não para fartar-vos.
........Bebestes,
........mas não para saciar-vos.
........Vos vestistes,
........mas não para aquecer-vos.
........O assalariado assalaria-se para dentro de um saquitel [pequeno saco] furado!
.....Assim disse Javé dos Exércitos:
........Dirigi vossa atenção à vossa situação:
........Subi à montanha!
........Trazei madeira!
........Construí a casa!
........Dela me agradarei.
........Serei glorificado!
............Disse Javé.
........Aguardastes abundância
........e eis escassez.
........Trouxestes para casa
........e o dissipei.
........Por quê? – Dito de Javé dos Exércitos.
........Por causa de minha casa que continua em ruínas, enquanto dentre vós cada
........qual corre no interesse de sua casa.
........Por isso contra vós os céus retiveram o orvalho, a terra reteve seu fruto.
........Convoquei seca sobre a terra, sobre os montes, sobre o cereal, sobre o
........mosto, sobre o óleo e sobre o que a roça produz, sobre pessoas, sobre
........animais e sobre todo trabalho das mãos.

Zorobabel, filho de Salatiel, Josué, filho de Josedec, o sumo sacerdote, e todo o resto do povo ouviram a voz de Javé, seu Deus, e as palavras do profeta Ageu, como lhe ordenara Javé, seu Deus. O povo temeu a Javé. Disse Ageu, o mensageiro de Javé no encargo de mensageiro de Javé, ao povo: eu mesmo estou convosco, dito de Javé.

Javé suscitou o espírito de Zorobabel, filho de Salatiel, intendente de Judá, o espírito de Josué, filho de Josedec, o sumo sacerdote, e o espírito de todo o resto do povo. Vieram e se puseram ao trabalho na casa de Javé dos Exércitos, seu Deus, no 24º. dia do 6º. mês.

Pensando o texto

É uma tarefa difícil compreender o texto de Ageu, mas é prazerosamente desafiadora. Difícil pela distância que há do leitor moderno, mas é desafiadora porque o texto continua vivo diante de nossos olhos.
Não se sabe nada de Ageu. Talvez tenha divido a mesa do alimento com o profeta Zacarias. Viveram no mesmo tempo.
O grande ponto inicial no livro do profeta é que ele vai em direção aos poderes civis e religiosos – representados pela “Igreja e Estado”, entregando a mensagem do Deus conhecido. Em primeira instância a palavra vai ao destino certo, a quem deveria ouvir primeiro – o “governador” e o “bispo”. O problema que justifica a palavra de Deus pelo profeta, na expressão do nosso texto, é que Deus foi isolado, esquecido, mal-representado, uma vez que o símbolo de sua relação com seu povo estava no chão: o templo.
O povo diz – “agora não!”. E é esta a queixa de Deus. Afinal, está “pegando mal” a figura das casas bem construídas em volta dos tocos de destruição do templo. Jerusalém, portanto, torna-se o símbolo de um lugar para viver em casa própria, sem definição de um Deus que a caracteriza – não há um Deus na cidade onde todos possam ver.
Mas Deus não deixa por menos, chama o povo para uma auto-reflexão. Muitas sementes foram jogadas. O povo investiu na semeadura, mas decepcionou-se com a colheita – a comida não mata a fome, pois é alimento insuficiente – alguns pais terão que alimentar apenas seus filhos. A bebida, o vinho, somente molha os lábios – a taça não transborda. As roupas apenas escondem a nudez – o armário sempre se repete. E o salário passa correndo sem ser identificado. Não há renda substancial, digna para a sobrevivência da família. Deus alerta: “Parem para pensar!”.
O texto continua demonstrando que Deus os quer mais perto, principalmente, que eles ocupem sua atenção com aquilo que faz com que Deus seja lembrado. Deus quer o templo de volta. Pensando com nossos botões, percebemos que o templo não era um fim em si mesmo, mas era uma maneira visível para que Deus se mantivesse na memória de um povo que caminhava com o esquecimento.
O templo era para que Deus fosse glorificado – apenas Deus. Era para marcar a presença do Deus libertador de exílios. Portanto, a palavra de ordem era: “vamos construir”.
Deus fechou a mão. A escassez do campo e do alimento foi a maneira para provar o fato de que Deus carecia da glorificação do seu povo. Não que tal glorificação fosse vital para sua existência, mas fica bem cantar louvores ao Deus conhecido. A escassez do campo é a demonstração da escassez de tudo – não havia alimento, cereal e outros – a roça já não era mais a mesma, da mesma forma que não havia nenhum sentimento para com Deus, e demonstração de amor pelo mesmo.
A “Igreja e o Estado” ouviram a voz de Deus. O povo igualmente ouviu a voz de Deus. Quando Deus é ouvido, Ele se manifesta sua presença.
“Zorobabel, filho de Salatiel, Josué, filho de Josedec, o sumo sacerdote, e todo o resto do povo ouviram a voz de Javé, seu Deus, e as palavras do profeta Ageu”
“ [...] eu mesmo estou convosco, dito de Javé”
Em seguida, o espírito de todos se renderam a Deus, e fizeram aquilo que agradasse a Deus – o templo.
O templo foi para Deus uma constatação de que o povo estava em torno dEle. Para Javé, a presença do templo anunciava a presença de Deus. É Javé, Aquele que faz com que a comida, o aconchego, a alegria e o trabalho permaneçam sempre na vida do povo.
O templo anunciou, como um termômetro, o grau de consciência sobre quem era Deus, e sua importância na vida cotidiana do povo – inicialmente, estava abaixo de zero.