sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
Jesus nascido... Deus acampado conosco...
O apóstolo João, juntamente com sua comunidade, no seu tempo, no contexto onde eles estão inseridos, tiveram como objetivo apresentar um Cristo que pelo tempo já decorrido, era visto distanciadamente.
Um Cristo com fama. Um homem que marcou sua história pelos feitos sobrenaturais, pelas falas sobrenaturais, um homem que de tão humano como é, apenas sendo o próprio Deus mesmo, assinando sua criação na encarnação humana, vivendo a vida humana, mas apropriado de uma natureza, mentalidade, sensibilidade e orientações divinas.
A verdade é que João e sua comunidade nos revela que a "Palavra" (o Deus lido por meio da lei, das orações salmodiais, das bocas dos profetas, o Deus ouvido e sentido) pousa em nosso quintal. Deus em Cristo arma sua barraca, acampando no meio de nós, usufruindo e dividindo a mesma vida. É acordar e saber que Deus também mora em nosso condomínio. No entanto, merece nossa atenção pois Ele fala e age como nós, mas ao mesmo tempo como Deus quer, como Deus é.
Deus tornou-se pessoa e sentou-se em nosso banco, onde sentimo-lo seu calor e sua presença. Torna-se bastante incompreendido para outros segmentos que creem em Deus sem pensá-lo como Triúno. Porém, aqueles que seguem a Jesus Cristo de Nazaré, nascido em Belém, seguem-no sabendo que é a Deus com quem estão tratando. É o filho de Deus, nascido de uma mulher, mas concebido inexplicavelmente pelo Santo Espírito.
É graça e verdade contidas nele que o revelam a nós. Jesus o Cristo de Deus nos é revelado porque graça e verdade não se alojam em um homem que não tenha sido enviado especialmente de Deus.
João e a comunidade testemunham que viram sua glória. Não a glória de um herói ou mártir, mas de alguém único. É Jesus o único que Deus gerou. Deus não cria um filho, Ele gera. Se somos filhos de Deus, somos adotados. Mas o único que tem a "cara" do Pai é Jesus.
O lugar é inóspito. Não se tratou de um lugar apropriado onde crianças nascem, mas a estrela brilhou lá. O humilde adquiriu brilho, pois Deus visitou tudo o que era inapropriado. Os pastores foram atraídos, os sábios foram atraídos, os anjos cantaram, e até a realeza se incomodou com o fato.
Deus veio a nós e nunca mais nos deixou. A imagem do Deus invisível se fez notória. A salvação nasceu na criança. Deus como criança já nos deu garantia de salvação. Bastou surgir em nosso meio como uma criança, isso nos serviu como indicação de toda a história. A criança foi seguida. Como adulto foi igualmente seguido, e jamais conseguiremos tirar nossos olhos do lugar onde Ele se encontra...: Deus conosco é conosco onde Ele se encontra - assim como a estrela se manteve no céu guiando a todos em direção a presença do Deus menino, assim o menino é nossa estrela que nunca se apagará.
Imanuel... Deus conosco!
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Voltando para a casa com mantimento nas mãos (Salmo 126)
O salmo 126 está localizado na Babilônia, no exilio (a partir de 587 a.C.). Havia um sentimento nacionalista. Uma emoção em relação a saudade da terra, bem como um desejo de retornar à casa que fazia parte dos pensamentos, por todo instante – isso enquanto se vivia no lugar que não podia chamar de “seu”. Em todo tempo, o saudosismo se apresentava em cantarolar as canções que faziam parte da terra natal, da Jerusalém, do Sião sagrado. Eram músicas que transportavam os corações e mentes dos saudosos – do povo de Deus instalado na Babilônia. Eram sonhos esperançosos que sabiam e aguardavam por acontecer. Intensa foi a expressão do salmista (v.1), quando eles se encontraram de supetão, no momento que Javé alterou o cativeiro – é a saída do cativeiro indesejado, rumo ao cativeiro sonhado.
“Estávamos como quem sonhando...”, trocando em miúdos, não acreditávamos o que estava acontecendo, não parecia verdade, me belisca! Foi o momento histórico: “a boca se encheu de riso e a língua de jubilo”. Foi um momento de euforia onde a alegria não se cabia, e onde e as palavras foram tomadas por expressões festivas de enaltecimento a Javé. O momento foi testemunhal. Outros povos perceberam o Deus que age. A constatação é que Javé é Deus de benfeitorias. Ele olha para o povo e luta em favor deste. Age pelos homens, pelo seu próprio povo. Ao estranho foi no mínimo curioso. A fofoca sobre o Deus Javé que age em favor dos jerusalemitas exilados, correu solto entre todos.
No v.3 o salmista assume o que virou noticia: “grandes coisas Javé fez conosco: estamos contentes”. Neste instante, o texto conclui a satisfação pela ação de Deus. O salmo poderia finalizar aqui. Temos a impressão de que foi dito tudo. No entanto, o v.4 aponta como se fosse uma petição anterior, ou uma confirmação daquilo que irá acontecer. Por se tratar de uma canção, temos a possibilidade de repetição da frase. O acréscimo é o deserto do Negeb – lugar árido onde chovia raramente, mas inundava a tal ponto que quando a chuva passava havia florescimento no solo. O lugar da infertilidade tornava-se fértil, mesmo que voltasse a ser deserto.
A canção termina relatando que a fertilidade é alcançada na caminhada e no choro mesmo enquanto se semeia não sabendo se a semeadura vingará. Mas quando volta, tendo o resultado da colheita, volta com riso e com o conjunto de palhas colhidas nas mãos. São os feixes nas mãos que servem como trunfo de que valeu deixar as lágrimas semearem o árido Negeb. Essas são as grandes coisas que o Senhor faz: quem volta rindo mediante o choro anterior, volta rindo pra valer.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Fugir do templo é sobreviver sozinho, e sem Deus (Ageu 1.1-15)
É muito importante quando localizamos o lugar e o tempo de um profeta. Assim compreendemos que o profeta e suas palavras não são alheias, soltas, sem destino, sem objetividade, mas são concretas na história que o cerca. Ageu tem sua atuação localizada. O livro inicia indicando o mundo persa, em agosto de 520 antes da era cristã – a narrativa do próprio livro e os personagens nos leva a tal conclusão.
O texto de Ageu é um panfleto. Escrever não era uma prática comum, principalmente pelo custo e pela necessidade do conhecimento para escrever. Ler e escrever não eram para todos, daí a tradição oral como maneira cultural e condicional do povo aproximar-se das palavras. Nosso panfleto é organizado em dois capítulos com 38 versículos ao todo. Não é um livro, e isso permite que sendo um panfleto possa estar mais vivo e presente nas mãos dos que lêem, permitindo a facilidade para a maioria ouvir – o panfleto circulava com maior intensidade nas mãos dos leitores e, consequentemente, os que ouviam eram muitos, e tudo se guardava, independentemente se havia alguma consideração com o profeta.
O texto
No 2º. ano do rei Dario, no 6º. mês, no 1º. dia do mês, aconteceu a palavra de Javé através do profeta Ageu a Zorobabel, filho de Salatiel, o intendente de Judá, e a Josué, filho de Josedec, o sumo sacerdote, dizendo:
.....Assim disse Javé dos Exércitos:
........Este povo disse:
........Agora ainda não chegou o tempo de ser construída a casa de Javé!
.....E aconteceu a palavra de Javé através do profeta Ageu, dizendo:
........Para vós, sim para vós é tempo para morardes em vossas casas
........apaineladas, enquanto esta casa fica em ruínas?!
.....Agora!
.....Assim disse Javé dos Exércitos:
........Dirigi vossa atenção à vossa situação:
........Semeastes muito,
........mas colhestes pouco.
........Comestes,
........mas não para fartar-vos.
........Bebestes,
........mas não para saciar-vos.
........Vos vestistes,
........mas não para aquecer-vos.
........O assalariado assalaria-se para dentro de um saquitel [pequeno saco] furado!
.....Assim disse Javé dos Exércitos:
........Dirigi vossa atenção à vossa situação:
........Subi à montanha!
........Trazei madeira!
........Construí a casa!
........Dela me agradarei.
........Serei glorificado!
............Disse Javé.
........Aguardastes abundância
........e eis escassez.
........Trouxestes para casa
........e o dissipei.
........Por quê? – Dito de Javé dos Exércitos.
........Por causa de minha casa que continua em ruínas, enquanto dentre vós cada
........qual corre no interesse de sua casa.
........Por isso contra vós os céus retiveram o orvalho, a terra reteve seu fruto.
........Convoquei seca sobre a terra, sobre os montes, sobre o cereal, sobre o
........mosto, sobre o óleo e sobre o que a roça produz, sobre pessoas, sobre
........animais e sobre todo trabalho das mãos.
Zorobabel, filho de Salatiel, Josué, filho de Josedec, o sumo sacerdote, e todo o resto do povo ouviram a voz de Javé, seu Deus, e as palavras do profeta Ageu, como lhe ordenara Javé, seu Deus. O povo temeu a Javé. Disse Ageu, o mensageiro de Javé no encargo de mensageiro de Javé, ao povo: eu mesmo estou convosco, dito de Javé.
Javé suscitou o espírito de Zorobabel, filho de Salatiel, intendente de Judá, o espírito de Josué, filho de Josedec, o sumo sacerdote, e o espírito de todo o resto do povo. Vieram e se puseram ao trabalho na casa de Javé dos Exércitos, seu Deus, no 24º. dia do 6º. mês.
Pensando o texto
É uma tarefa difícil compreender o texto de Ageu, mas é prazerosamente desafiadora. Difícil pela distância que há do leitor moderno, mas é desafiadora porque o texto continua vivo diante de nossos olhos.
Não se sabe nada de Ageu. Talvez tenha divido a mesa do alimento com o profeta Zacarias. Viveram no mesmo tempo.
O grande ponto inicial no livro do profeta é que ele vai em direção aos poderes civis e religiosos – representados pela “Igreja e Estado”, entregando a mensagem do Deus conhecido. Em primeira instância a palavra vai ao destino certo, a quem deveria ouvir primeiro – o “governador” e o “bispo”. O problema que justifica a palavra de Deus pelo profeta, na expressão do nosso texto, é que Deus foi isolado, esquecido, mal-representado, uma vez que o símbolo de sua relação com seu povo estava no chão: o templo.
O povo diz – “agora não!”. E é esta a queixa de Deus. Afinal, está “pegando mal” a figura das casas bem construídas em volta dos tocos de destruição do templo. Jerusalém, portanto, torna-se o símbolo de um lugar para viver em casa própria, sem definição de um Deus que a caracteriza – não há um Deus na cidade onde todos possam ver.
Mas Deus não deixa por menos, chama o povo para uma auto-reflexão. Muitas sementes foram jogadas. O povo investiu na semeadura, mas decepcionou-se com a colheita – a comida não mata a fome, pois é alimento insuficiente – alguns pais terão que alimentar apenas seus filhos. A bebida, o vinho, somente molha os lábios – a taça não transborda. As roupas apenas escondem a nudez – o armário sempre se repete. E o salário passa correndo sem ser identificado. Não há renda substancial, digna para a sobrevivência da família. Deus alerta: “Parem para pensar!”.
O texto continua demonstrando que Deus os quer mais perto, principalmente, que eles ocupem sua atenção com aquilo que faz com que Deus seja lembrado. Deus quer o templo de volta. Pensando com nossos botões, percebemos que o templo não era um fim em si mesmo, mas era uma maneira visível para que Deus se mantivesse na memória de um povo que caminhava com o esquecimento.
O templo era para que Deus fosse glorificado – apenas Deus. Era para marcar a presença do Deus libertador de exílios. Portanto, a palavra de ordem era: “vamos construir”.
Deus fechou a mão. A escassez do campo e do alimento foi a maneira para provar o fato de que Deus carecia da glorificação do seu povo. Não que tal glorificação fosse vital para sua existência, mas fica bem cantar louvores ao Deus conhecido. A escassez do campo é a demonstração da escassez de tudo – não havia alimento, cereal e outros – a roça já não era mais a mesma, da mesma forma que não havia nenhum sentimento para com Deus, e demonstração de amor pelo mesmo.
A “Igreja e o Estado” ouviram a voz de Deus. O povo igualmente ouviu a voz de Deus. Quando Deus é ouvido, Ele se manifesta sua presença.
“Zorobabel, filho de Salatiel, Josué, filho de Josedec, o sumo sacerdote, e todo o resto do povo ouviram a voz de Javé, seu Deus, e as palavras do profeta Ageu”
“ [...] eu mesmo estou convosco, dito de Javé”
Em seguida, o espírito de todos se renderam a Deus, e fizeram aquilo que agradasse a Deus – o templo.
O templo foi para Deus uma constatação de que o povo estava em torno dEle. Para Javé, a presença do templo anunciava a presença de Deus. É Javé, Aquele que faz com que a comida, o aconchego, a alegria e o trabalho permaneçam sempre na vida do povo.
O templo anunciou, como um termômetro, o grau de consciência sobre quem era Deus, e sua importância na vida cotidiana do povo – inicialmente, estava abaixo de zero.
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