quinta-feira, 26 de maio de 2011

Convite à mesa – Mateus 15.21-28 / Marcos 7.24-30

A História contada...

Jesus sai do lugar onde estava, em meio ao diálogo com os fariseus, diante dos discípulos e da multidão (15.1-20), e vai para próximo de Tiro e Sidom (cidades religiosamente pagãs na região Siro-Fenícia).
- “Senhor, filho de Davi, tenha pena de mim, minha filha está sendo cruelmente atormentada por um demônio” – grita uma mulher daquela região, quando se aproxima de Jesus.
Jesus fica em silêncio... um silêncio que para nós, solícitos como somos, nos inquieta. Inquietos ficaram os discípulos ao ver o clamor da mulher, e indo até Jesus disseram:
- “Atende essa mulher! Assim ela some daqui! Ela está fazendo um escândalo. Ela é ´barraqueira´ Mestre!”
Mas Jesus, com convicção de sua missão, deixou bem claro:
- “Não vou atendê-la. Meu compromisso é com as ovelhas de Israel, a família de Israel” – sentenciou despreocupado com os olhares espantosos...
Mas a mulher insistente, estando a certa distancia do diálogo “fala, não falo”, vai ao encontro de Jesus, ajoelhando-se diante dele e dizendo:
- “Senhor, ajude-me!” – com olhar de socorro.
Jesus, porém, responde taxativamente:
- “Não é correto arrancar o pão dos filhos para dar aos cachorrinhos” – é como dizer: “há prioridades (a casa de Israel tem que comer primeiro, pois é dela o alimento preparado – Jesus que serve a mesa, vem refazer a aliança que Deus fez com seu povo em tempos antigos)
A mulher concordou, demonstrado ciência da missão de Jesus de Nazaré. Mas ela ainda não se sentiu fora da mesa:
- “Sim, Senhor, é verdade; mas também os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos.” [eles ficam ansiosos pelas migalhas, as sobras que caem da mesa dos seus donos] – foi a última tentativa, já cansada do “não” de Jesus.
Refletindo – a criança, muitas vezes, recusa o alimento que o cachorrinho está de olho desde o início. O cachorrinho está sempre de plantão no alimento recusado. Jesus percebe que a mulher está disposta em esperar a queda das migalhas, sabendo que receberá o alimento. Para Jesus, tal expectativa é na verdade uma demonstração de fé naquilo que irá receber.
Daí Jesus reconhece a fé da mulher em nossa história bíblica, e conduze-a para a mesa, permitindo simultaneamente a libertação da filha – quem sobe à mesa com o Senhor experimenta a liberdade.
A mulher provou a todos, inclusive nós, que a crença e a religiosidade não são suficientes para incluir alguém na família [mesa] de Deus. Mas é a fé em Jesus, sabendo que Ele é o guia do povo, da família de Deus.

Observando pela nossa janela...

1-O caminho certo e necessário é o seguimento de Jesus

Caminharmos em sua garupa. Em nossa história, Ele já era conhecido pela mulher (v.22) e indicado como alguém que costuma ouvir e atender as pessoas. Nós caminhamos atrás de Jesus, perseguindo-o para ouvi-lo, para aprendermos dele e gritarmos nossas causas a Ele. Seguir a Jesus é uma ação insistente (o grupo deve refletir mais sobre a afirmação).

Analisando a situação da mulher...

- A mulher não tinha quem procurar.
- Havia nela um desconhecimento parcial da possessão de sua filha – ela não sabia como proceder.
- Sua condição de mulher não lhe dava muitas opções de solução.
- Ela se sentia deslocada e órfã de um povo – daí o motivo de cear com Jesus e sua família.
- Ela desejava ser adotada, inserida no povo de Deus, pois percebera que Iahweh, o Deus de Israel, estava interessado no seu povo – quem não quer um Deus que esteja interessado em salva?

2-Jesus “ouve” nossas palavras e considera o que dizemos

A nossa relação com Deus é aberta – Ele ouve e fala. É notório que Deus considera o que dizemos, e nossa fé sincera é a chave para Deus corresponder às nossas questões. Porém, Deus não tolera a soberba. A mulher agiu com humildade. É como se ela dissesse: “Tudo bem, está certo, sendo assim o meu direito é de cachorro” – o cachorrinho tem direito no momento em que os da mesa decidem abrir mão de parte de seu direito – afinal, o alimento é o mesmo: está na mesa, se desloca ao chão. Se as migalhas caem ao chão, o direito é do cachorro que ficou infinitos minutos aguardando-as.
Jesus percebe que os cachorrinhos valorizam mais as migalhas no chão, do que os filhos o alimento na mesa. O filho despreza o alimento da mesa e o cachorrinho faz a festa.

Pensando e refletindo...

Tal sentimento da mulher provocou uma forte percepção em Jesus, que o convenceu naquele momento. Jesus entendeu que o privilégio não era dos judeus – é coerente seu nacionalismo uma vez que ele sendo judeu e pensando como judeu, deveria defender e priorizar seu povo. Não foi de imediato que Ele entendeu a salvação para todos os povos.
Sabendo Jesus, e tendo consciência de que Ele mesmo é o caminho, a verdade e a vida, consequentemente, a fé do ser humano é que o conduz a Jesus (o caminho), e não sua origem patriarcal.
O demônio saiu da filha daquela mulher. E ela mesma alcançou sua auto-estima, pois, Deus a ouviu. Jesus considerou a palavra da mulher.

3-O nosso direito diante de Deus não se limita a quem somos

O evangelho é a mensagem do direito...
- direito de liberdade (em Cristo somos verdadeiramente livres, como um povo amado que sai da escravidão do Egito, e adquire sua própria vida ao lado de seu Deus)
- direito do amor de Deus (sentir-se amado(a) por um Deus é algo incomum na dimensão do mundo das divindades, mas somos avisados que em Deus há amor)
- direito da graça (gratuidade de vida que conduz ao encontro do próprio Deus)
- direito de filiação (é a relação paterna entre Deus e o povo que Ele mesmo desejou como filhos)
- direito de vida (o evangelho traz a vida abundante, bem desfrutada, como o próprio Deus planejou que fosse)
- direito de salvação (não são apenas os judeus, nem gregos; mas todos os que Jesus reconhece como participantes de sua mesa)

A nossa menor condição permite exercermos maior fé (a fé dos pequenos é gigante). Um olhar na mulher siro-fenícia nos faz concluir que não somos obrigados a alcançar nenhuma grande posição para encontrarmos Deus, para sermos ouvidos e atendidos. A nossa consciente impressão é de que não ficaremos de fora. Nosso clamor foi o mesmo quando conhecemos Jesus.

A pergunta é:

- Quem se alimenta melhor?
Pergunta-Resposta:
- Quem come na mesa sem nenhuma ansiedade, sem nenhum prazer, não curtindo o sabor?
ou
- Quem faz das migalhas um banquete? Jesus olhou para quem o alimento é mais importante

Última impressão do texto...

- os discípulos são insensíveis e apressados
- Jesus experimentou dois momentos:
- sua convicção judaica
- e mais tarde, refletiu e concluiu sobre a fome da mulher por adquirir uma identidade junto a Jesus, para caminhar com Ele.
- a mulher se identifica conosco – nós desejamos que Jesus nos aprove (precisamos ser aprovados por Ele)
- a filha da mulher que se identifica com aqueles por quem intercedemos e queremos vê-los libertos.

No texto há: socorro, reconsideração, solução, consolo, libertação e salvação

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Bíblia nas mãos: sem pressa...

Inicio este espaço com alegria...

Falar sobre o estudo da Bíblia e estudá-la, é sempre levantar desafios. E para isso é importante atentar sempre, que a leitura da Bíblia desconhece o impulso da pressa. Quando nossos olhos percebem o estilo de vida que hoje vivemos, percebemos que há um duelo: abraçar a pressa que em muitos já impregnou-se, ou assentarmos confortavelmente e abrirmos o texto, para dele arrancarmos o ânimo de nossa vida...

O texto bíblico não é místico, mas sim, emocionante. É o Santo Espírito que nos traz a emoção. Quando lemos as histórias e adentramos no ambiente do texto, somos removidos de onde estamos e participamos com nossa torcida, nosso lamento, nossa surpresa, enfim, somos engolidos pelo desejo de compreendermos o que se passa em nosso texto.

A leitura não necessita ser dogmática - autoritária, sentenciosa - mas é imprescindível que seja humana. Em uma leitura mais humana da Bíblia encontramos Deus entre nós. Principalmente quando no momento em que o Messias-Cristo, que é Jesus, nos contempla com sua presença, palavras e ensinos nos Evangelhos. Daí testificamos, ao modo da fé, que a Palavra tornou-se gente, mas ao mesmo tempo, que Deus mergulhou no texto para fazer parte da história. Não de forma misteriosa, mas de forma humanizada - Deus quer participar de sua própria história. É a história em que os homens vivem abundantemente. E Deus, por meio de Cristo, quer experimentar como é vivê-la - sem descontos, sem privilégios.

A Bíblia está em nossas mãos para iniciarmos com o Deus criador. Entendermos o que Ele deseja dos homens. Vê-lo comunicando com os homens por meio de outros homens, pouco melhores, digamos que mais sinceros e com menos "frescuras" - são os profetas. Em seguida, as cortinas do templo se abrem - se rasgam - para que o protagonista de toda história - história inacabada - entre acompanhado de aplausos, vaias, descréditos, indiferença das autoridades, ódio dos demais religiosos, com alguma admiração, alguma gratidão de alguns, enfim... olhamos para o texto, experimentamos e concluimos com nosso próprio paladar, no entanto, sentindo um gosto diferente daquilo que quando originariamente foi preparado. Mas engolimos gostosamente, e por fim, atestamos que o efeito é o mesmo. A fórmula não mudou.

Daqui para frente teremos várias leituras. Mantenha a "Bíblia nas mãos"