quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Deus reserva o pão – corremos para buscá-lo, sabendo que é presente sempre e nunca estraga (Eclesiastes 11.1-8)

O Eclesiastes não é religioso, mas vivencial. O pregador que fala à assembleia, no livro do Eclesiastes (qohelet), posiciona a vida em lugar sagrado, apesar de andar nas ruas. O pregador, o Eclesiastes caminha nos lugares comuns, pois o valor da vida pensada por Deus não poderia ser vulgarmente considerada, mas tem valor sagrado. Não é apenas o espírito humano que visita a concepção do “sagrado”, mas também o homem em situações concretas. Diante do nosso texto, quase ao final do livro (11.1), o pão lançado sobre as águas é a estrada utilizada para ir e vir com o produto do trabalho. É suposto que o rei Salomão, sendo este nosso personagem na autoria, possuísse embarcação e realizasse negociações externas. De qualquer maneira são as águas o caminho do sustento da venda e compra. É o começo da trilha que conduz ao acreditar que Deus sustentará. Repartir com sete ou oito é a presença marcante dos números na cultura judaica (v.2). É a família, ou o grupo mais que aproximado. As águas presenteiam o produto do trabalho lançado. Mas tal produto não é exclusivo para quem lança o pão. Pois o pão é sinônimo de coletividade – a casa do pão possui portas largas. Repartir é um princípio de sabedoria, até porque a terra traz surpresas. Na mão de muitos, inicialmente sete ou oito, o produto do trabalho é preservado, onde não há falta para ninguém uma vez que o espirito de partilha igualmente é um princípio de sabedoria. Deus enche as nuvens (v.3). Não é apenas uma situação físico-metereológica, mas é a mão sustentadora de Deus sobre a terra que necessita da chuva. A mesma chuva graciosa, muitas vezes bruta, faz cair a árvore ou para um lado ou para o outro. Seja qual for a posição, a árvore não se move por vontade própria, e nem serve para ser lançada ao fogo, mas aproveitada pelos mesmos sete ou oito, na confecção de utilitários. Por que não pensar que Deus abençoa na ação e reação natural? Ao menos pelo olhar do sábio que possuía menores complicações em seu contexto. Será? É uma ótima atração observar e sentir o vento, mas quando o assunto é lançar e esperar o pão retornar, deixa-se de olhar pra cima – vento e nuvens (v.4), e passa a acompanhar o processo da terra. Até porque o vento é impreciso, como impreciso é o conceito da concepção humana no ventre materno – a desinformação sobre a formação dos ossos de uma criança (v.5), assim também é vaidosa nossa afirmação a respeito da ação de Deus. Em suma, faça o que sabes fazer. A semeadura é algo que sai de nossas mãos, bem como a colheita do resultado de tal. O que sabemos está abaixo de nossa cabeça, ainda assim com inúmeras imprecisões. O sábio ainda nos diz que é preciso vigiar o que se sabe fazer. Não largar mão da terra, descansando no acreditar que ela nos é escrava. O pão lançado e retornado não é jogado aos cantos, mas com sabedoria é cultivado (v.6). A luz é doce, nas palavras do sábio (v.7). Porque é na luz que tudo se realiza. Ele nos convida a aproveitarmos a claridade. Deus acende a luz para enxergarmos o pão cultivado. Mas dias de trevas estão presentes da mesma forma, não apenas por não enxergar, mas porque a sabedoria exige consciência das situações. Quando o pão vem em demasia é motivo de festa, quando não, guarda-se a festa para mais tarde. Não serão poucos os dias, pois em todos eles a vida se adapta (v.8). Contudo, o sábio nos avisa que tal vida é cercada pela vaidade. Pois é nas palavras de Jesus que encontramos a resposta: “ [...] não é a vida mais do que o alimento [...]? Observai as aves dos céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta [...]” (Mateus 6.25b-26). Evidentemente, a sabedoria em nosso texto se encontra por intermédio da experiência em não tornar tal sabedoria comum, na sugestão do sábio. O convite do sábio diz respeito a uma tomada de decisão e de direção nos procedimentos adotados. Essa é a Bíblia, a Palavra de Deus que nos empurra para melhores lugares. Deus conosco